A eleição dos Estados Unidos, que acontece nesta terça-feira (5), está marcada por um dos pleitos mais acirrados da história recente. Em meio ao clima polarizado, uma falsa narrativa surgiu como peça-chave na estratégia de Donald Trump para conquistar o apoio de eleitores indecisos. O ex-presidente levou o boato “Estão comendo pets”, que já circula na internet, para o debate contra a oponente Kamala Harris, sendo desmentido ao vivo pelo mediador.
Recorrendo a uma prática que tem sido cada vez mais comum em campanhas de extrema-direita, o candidato disseminou a fake news alarmista envolvendo a comunidade haitiana, mobilizando estereótipos e preconceitos profundamente enraizados na sociedade americana.
A falsa notícia, que teve origem em Springfield, Ohio, acusa imigrantes haitianos de matarem animais de estimação para se alimentar — uma acusação infundada e desmentida por autoridades locais, que afirmaram não haver “relatos credíveis ou afirmações específicas” de maus-tratos a animais por membros da comunidade imigrante. Ainda assim, a narrativa encontrou espaço no debate nacional, sendo utilizada por Trump. Essa fake news também foi amplificada por figuras conservadoras influentes, como Elon Musk, dono da rede social X, o senador republicano JD Vance, que disputa a vice-presidência ao lado de Trump, e até pelo filho do candidato republicano.
A utilização de fake news pela campanha do ex-presidente revela uma estratégia de capitalizar em cima de sentimentos xenófobos e racistas, explorando inseguranças culturais e preconceitos contra imigrantes. Essa tática reflete uma disposição alarmante de manipular o medo como ferramenta eleitoral, a despeito das consequências sociais e do impacto sobre comunidades vulneráveis. Imagens geradas por inteligência artificial, nas quais Trump aparece ‘defendendo’ animais, foram amplamente compartilhadas e reforçaram a narrativa, gerando grande repercussão nas redes sociais.
A estratégia de Trump, que busca explorar a linha tênue entre humor e desinformação, é um sinal claro do uso calculado de desinformação como arma política. Contudo, a tentativa pode lhe custar caro. Ao basear sua campanha em boatos racistas, Trump arrisca perder o apoio de setores mais críticos e informados da sociedade americana, que veem na manipulação de notícias uma prática corrosiva e perigosa para a democracia. O episódio também revela uma disposição preocupante de líderes políticos em distorcer o debate público para atingir seus objetivos, mesmo ao custo da verdade e do respeito às comunidades que compõem o tecido social dos Estados Unidos.
A mobilização de fake news para atacar minorias e imigrantes evidencia uma crise ética e moral que transcende as fronteiras do cenário político americano, gerando um perigoso precedente sobre os limites (ou a falta deles) na construção de narrativas de campanha. Se Trump ganhará os indecisos com essa tática, ainda é incerto. No entanto, o dano social da disseminação de boatos com fundo racista em escala nacional já é, sem dúvida, irreparável.