Em uma jogada política que está gerando ondas de choque na paisagem eleitoral de Olinda, o Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou Vinícios Castello como seu pré-candidato a prefeito para o pleito deste ano. Até aqui, tudo parece normal dentro do cenário político local. A verdadeira surpresa veio com a escolha do empresário Celso Muniz, do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), para compor a chapa como vice-prefeito.
Para aqueles que não seguem a política de perto, essa aliança pode parecer rotineira. Afinal, PT e PCdoB estão federados e têm feito parcerias em diversos municípios pelo país. No entanto, a realidade é bem mais intrigante e, para muitos, perturbadora.
Celso Muniz, um empresário de renome, proprietário dos shoppings Patteo Olinda e Boa Vista, tem um histórico político que é tudo, menos alinhado com as ideologias de esquerda. Muniz foi candidato a prefeito em 2020 pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), mas é conhecido por seu fervoroso apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sim, você leu corretamente – o novo pré-candidato a vice-prefeito pelo PCdoB é um bolsonarista declarado.
Desde 2018, Muniz se destacou como defensor das políticas de Bolsonaro, abraçando pautas de extrema-direita que vão de encontro aos princípios do partido ao qual agora está filiado. Negacionista, pró-armas, defensor do voto impresso e antivacina, Muniz acumulou um acervo de postagens em seu Instagram onde atacava medidas de isolamento social, elogiava a política econômica de Paulo Guedes e disseminava discurso de ódio.
Esse rico material, que seria um prato cheio para os críticos e observadores políticos, desapareceu das redes sociais. Muniz se apressou em apagar todas as suas publicações. Para alguém que não tem nada a esconder, essa atitude é, no mínimo, suspeita. Como “comunista” recém-convertido, a esperança de Muniz é conquistar uma vitória eleitoral, mas a sua verdadeira fidelidade ideológica permanece nebulosa.
A articulação que levou Muniz ao PCdoB foi conduzida pelo deputado federal Renildo Calheiros, que vê no empresário a chave para abrir portas no meio empresarial. Essa aliança pragmática, porém, escancara uma contradição que muitos eleitores terão dificuldade em ignorar. Como um partido que se orgulha de sua história de luta contra o fascismo pode abraçar um candidato que, até ontem, defendia tais pautas?
A situação em Olinda serve como um microcosmo das complexas e, às vezes, cínicas alianças que definem a política brasileira. Em um cenário onde princípios e ideologias são frequentemente trocados por conveniências eleitorais, os eleitores olindenses se veem diante de um dilema. Será que a busca por uma vitória eleitoral justifica tamanha contradição?
Enquanto a campanha de 2024 se desenrola, a resposta a essa pergunta poderá definir não apenas o futuro político de Olinda, mas também a credibilidade dos partidos envolvidos. Para muitos, a aliança entre Castello e Muniz soa como um sinal de que, na política, os fins continuam a justificar os meios, mesmo que isso signifique trair as próprias crenças. As urnas dirão se essa estratégia audaciosa e paradoxal será aceita pelos eleitores. Até lá, resta aos olindenses assistir a mais um capítulo das intricadas tramas do poder.