Recife: entre a propaganda e a realidade social

João Campos, com alta taxa de aprovação e prestes a ser reeleito, desfruta de uma popularidade que contrasta com números do IPS – Rodolfo Loepert/PCR
Mágoa petista ainda é evidente e pode desanimar ainda mais a militância na campanha do prefeito João Campos à reeleição no Recife - Rodolfo Loepert/PCR

Recife, capital pernambucana, destaca-se negativamente no cenário nacional quando o assunto é a qualidade de vida. No recente Índice de Progresso Social – Brasil (IPS Brasil), um estudo abrangente que avalia a qualidade de vida e o desempenho socioambiental dos 5.570 municípios brasileiros, Recife ocupa a preocupante 21ª posição entre as 27 capitais do país. Regionalmente, a cidade é a lanterna entre as nove capitais do Nordeste, superando apenas Maceió.

Esses dados não surgiram do nada. Eles são reflexo de uma realidade persistente, que vem se arrastando por anos. Reverter esse quadro não é tarefa fácil e demanda tempo, mas também é fundamental que a gestão pública seja transparente e realista em suas ações e comunicações. No entanto, o que se observa é um contraste gritante entre a propaganda governamental e a realidade vivida pela população.

A gestão do prefeito João Campos é um exemplo emblemático dessa contradição. Enquanto a propaganda oficial apresenta Recife como uma cidade em franco progresso, aclamada como uma das melhores gestões municipais do país, os indicadores de qualidade de vida contam uma história bem diferente. João Campos, com uma alta taxa de aprovação e prestes a ser reeleito, parece desfrutar de uma popularidade que não encontra respaldo nos números do IPS.

Recife recebeu uma nota geral de 63,73 no índice, categorizada como “média”. Porém, três componentes específicos puxam essa média para baixo: segurança pessoal, inclusão social e saúde e bem-estar. A segurança pessoal é o maior calcanhar de Aquiles da cidade, com uma nota alarmante de 39,21. Este indicador avalia aspectos como assassinatos de jovens, mortes por acidentes de transporte, homicídios e feminicídios. Pernambuco, por sua vez, fechou o primeiro semestre de 2024 com um aumento nas mortes violentas intencionais.

Recife tem a terceira pior nota em segurança entre todas as capitais, ficando à frente apenas de Manaus (36,28) e Aracaju (38,62). Outro ponto crítico é a inclusão social, que recebeu uma nota de 31,19. Este componente mede a violência contra minorias, a paridade de gênero e de negros e pardos na Câmara Municipal. Apenas São Paulo (27,02) e Campo Grande (30,23) têm notas piores que a de Recife.

Por fim, a saúde e o bem-estar, com uma nota de 54,92, também pesam negativamente na avaliação da cidade. Indicadores como expectativa de vida, mortalidade entre 15 e 50 anos, e mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis mostram um panorama preocupante. Novamente, Recife fica entre as três piores capitais do Brasil nesse quesito, superando apenas Maceió (53,22) e Boa Vista (54,54).

Esses dados revelam uma desconexão entre a percepção pública e a realidade. A popularidade de um prefeito não deveria eclipsar os desafios enfrentados pela população. É essencial que as ações do governo sejam refletidas em melhorias concretas na vida dos cidadãos e que a propaganda corresponda à verdade vivida nas ruas. A verdadeira medida do sucesso de uma gestão está em seu impacto positivo e duradouro na sociedade, e não apenas em sua capacidade de gerar uma imagem favorável.

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