Desde tempos imemoriais, as cores de uma bandeira não são apenas um amálgama de tintas sobre um pano, mas sim um símbolo sagrado de identidade nacional. No Brasil, o verde e amarelo não escapam dessa definição, carregando consigo não apenas a história de um povo, mas também as vicissitudes de sua atualidade política e social.
O que era para ser um símbolo unificador, capaz de evocar o orgulho patriótico em todos os brasileiros, tornou-se, desde a campanha eleitoral de 2018, um campo de batalha simbólico. Os bolsonaristas, habilmente, apropriaram-se dessas cores, transformando-as em estandartes de um conservadorismo valorizado pela defesa da família e dos “bons costumes”.
No entanto, essa apropriação não foi unilateral. Nas últimas eleições, vimos tentativas de outros grupos políticos, como o Partido dos Trabalhadores, de reivindicar essas cores como um símbolo de resistência contra um conservadorismo que consideram retrógrado. Essa luta simbólica foi descrita de forma perspicaz por Noblat, ressaltando a polarização que envolve o verde e amarelo na esfera política brasileira.
Recentemente, um evento na Avenida Paulista trouxe à tona uma nova narrativa. O movimento LGBTQIA+, historicamente marginalizado na representação simbólica nacional, trouxe de volta o verde e amarelo às suas fileiras. Para esses grupos, as cores da bandeira representam não só um resgate de uma identidade nacional plural, mas também um manifesto pela diversidade e inclusão.
No entanto, fica a pergunta: essas cores podem verdadeiramente ser resgatadas, ou permanecerão privatizadas pela retórica política dominante? Assim como se discute a privatização de praias, tema atualmente em pauta, a privatização simbólica das cores nacionais pode ser vista como um reflexo de um país dividido e em conflito.
Portanto, mais do que um debate político, o uso das cores verde e amarelo tornou-se um reflexo da nossa sociedade multifacetada. É preciso reconhecer que esses símbolos não pertencem a um único grupo ou ideologia, mas sim a todos os brasileiros, independentemente de suas crenças políticas ou orientações pessoais.
Em um mundo cada vez mais polarizado, talvez seja tempo de redescobrir o significado original dessas cores: unidade na diversidade, respeito pela pluralidade de vozes e um compromisso renovado com os valores democráticos que sustentam nossa nação. Este é o verdadeiro desafio: resgatar a bandeira como um símbolo de todos, em vez de uma ferramenta de divisão.