Os policiais civis de Pernambuco decretaram uma paralisação de 24 horas e, caso não haja diálogo com o governo estadual, iniciarão uma operação padrão nesta sexta-feira. Durante o debate no programa Girando a Pauta, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol-PE), Áureo Cisneiros, contestou a recente comemoração da governadora Raquel Lyra sobre a suposta diminuição da criminalidade no estado. Cisneiros garantiu que não houve redução nos índices de criminalidade e criticou a falta de investimento prometido para a segurança pública.
“O dinheiro anunciado no ano passado, mais de 1 bilhão de reais para a segurança pública, não foi investido. As delegacias pioraram: há mofo, infiltrações, e falta de alojamento adequado para policiais. A maioria das delegacias funcionam hoje em casas alugadas e improvisadas. Eu não vejo diferença, pelo contrário, vejo piora na violência e na estrutura da polícia civil”, destacou Cisneiros.
O presidente do Sinpol enfatizou que o efetivo policial é o mesmo de 40 anos atrás, com apenas cinco mil policiais para atender nove milhões de habitantes no estado. A situação se agrava com a aposentadoria de 1.400 policiais prevista para o próximo mês, reduzindo o efetivo para 3.600. O concurso anunciado pelo governo para 250 vagas de agentes, 50 de delegados e 100 para escrivães, embora posteriormente dobrado para 800 vagas, ainda está aquém da necessidade atual, que é de mais de seis mil policiais.
A falta de efetivo resulta em uma carência na investigação de inquéritos, especialmente de homicídios. “Aqui na Região Metropolitana do Recife, temos mais de dez mil inquéritos de homicídios sem serem investigados. Isso significa que os criminosos não serão presos. O crime organizado atua fortemente, principalmente no tráfico de drogas, com facções como Comando Vermelho e PCC, que estão matando muitas pessoas. A pistolagem voltou a crescer e a polícia civil não consegue investigar por falta de estrutura e pessoal. Isso é um escândalo”, afirmou Cisneiros.
Ele também criticou a governadora por alegar redução nos homicídios, argumentando que o ano passado foi excessivamente violento, com mais homicídios em Pernambuco do que no Rio de Janeiro. “Já estamos com 1.610 homicídios em cinco meses. No mesmo período do ano passado, foram 1.468 homicídios. Ou seja, um aumento de 8%. Como a governadora diz que os homicídios caíram? Não sei o que ela está comemorando, gostaria de descobrir”, ironizou.
Áureo Cisneiros ressaltou que em Pernambuco existem delegacias sem sequer um escrivão ou delegado, e que alguns delegados estão acumulando mais de cinco unidades. Ele sugeriu à governadora a uniformização das delegacias, como feito no Ceará, mas lamentou a falta de resposta do governo.
O presidente do Sinpol concluiu criticando a gestão de Raquel Lyra ao comparar com a administração do ex-governador Paulo Câmara. “Estou revivendo um filme que aconteceu há oito anos. É um governo muito parecido com o de Paulo Câmara. Até o secretário é o mesmo, a propaganda é igual, dizendo uma coisa que não é a realidade. Isso nos preocupa muito, pois queremos contribuir para sair dessa onda de violência e criminalidade e não conseguimos”, finalizou.