A vereadora evangélica Michele Collins (PP) foi chamada para depor na delegacia, nesta tarde, devido a suas críticas feitas no final do ano passado à concessão do título de Cidadã do Recife à professora Dayanna Louise, uma mulher trans. O discurso da vereadora na tribuna, antes da votação do Projeto de Decreto Legislativo proposto pelo vereador Ivan Moraes (PSOL), foi considerado “transfóbico e criminoso”, resultando, inclusive em um pedido de cassação do mandato de Michele Collins.
Nas redes sociais, Michele Collins pediu orações aos fiéis e anunciou que estava indo para a delegacia para esclarecer o caso, sem citar nomes. “Lembra que eu falei daquele título de cidadã, que era só para mulher, para pessoa do sexo feminino, e foi aquela polêmica toda? Aquela pessoa foi na delegacia, prestou um Boletim de Ocorrência e eu estou sendo chamada. Mas eu vou de cabeça erguida, porque quem não deve não teme”, afirmou a vereadora.
Michele Collins argumentou que suas declarações foram baseadas em suas crenças, valores e nas leis. “Falei a verdade e o fiz tranquila porque é no que acredito, baseada nas minhas crenças, nos meus valores e também nas leis”, disse a vereadora, garantindo que também se baseou no regimento interno da Câmara dos Vereadores do Recife. “Então, peço a vocês que orem por mim, eu sei que Deus já tomou a frente por mim, e tudo é para a glória do nome dele. Eu confio nele e conto com vocês.”
O vereador Ivan Moraes (PSOL) contestou a fala de Michele Collins na época. “A vereadora foi bem assertiva quando disse que Dayanna não poderia ganhar o título única e exclusivamente pelo fato de ser uma pessoa trans. Todo vereador tem direito de votar da forma que quiser. Eu não estou perseguindo a vereadora pelo voto que ela deu, pelo posicionamento que ela tem. O negócio é que ninguém pode no Brasil ser transfóbico”, afirmou Moraes.
Dayanna Louise não seria a primeira mulher trans a receber o título de Cidadã do Recife. Em 2022, a técnica em enfermagem Chopelly Santos, fundadora da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans), também foi homenageada.
Entenda o caso – Os vereadores do Recife barraram em plenário a concessão do título de Cidadã Recifense a Dayanna Louise, professora e doutoranda em educação. A controvérsia surgiu após Michele Collins subir à tribuna e afirmar que o título de cidadã, no feminino, não poderia ser concedido a “um homem, do sexo masculino”, alegando um “erro técnico”. Michele se referiu a Dayanna Louise como um homem trans, em vez de uma mulher trans.
A vereadora Michele justificou seu voto contra o projeto na Comissão de Legislação e Justiça com base no Regimento Interno da Câmara Municipal, que, segundo ela, estipula que o título de cidadã deve ser concedido a pessoas com sexo biológico feminino, independentemente do gênero, enquanto o título de cidadão é destinado a pessoas com sexo biológico masculino. A Câmara Municipal do Recife recebeu requerimento do vereador Ivan Moraes e prometeu tomar os procedimentos cabíveis em respeito ao devido processo legal.