Passadas duas semanas desde o início das intensas chuvas no Rio Grande do Sul, as autoridades e a sociedade civil enfrentam não apenas os impactos físicos da tragédia, mas também uma batalha contra a desinformação. Tem circulado na internet uma enxurrada de notícias falsas diferentes neste período, sendo amplificadas por políticos e artistas. A propagação dessas informações incorretas tem gerado preocupações, com consequências que vão desde o potencial de causar pânico até atrapalhar as operações de resgate e a distribuição de mantimentos e medicamentos.
Na última segunda-feira, sete deputados federais foram alvo de representação judicial movida pelo PSOL por disseminação de fake news durante uma sessão na Câmara dos Deputados. Entre eles estão Filipe Martins (PL-TO), Gilvan da Federal (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), General Girão (PL-RN), Coronel Assis (União-MT) e Coronel Ulysses (União-AC).
A disseminação de desinformação levou o governo federal a lançar uma campanha de conscientização no último domingo. Além disso, houve solicitação para que a Polícia Federal instaurasse inquérito contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e o influenciador Pablo Marçal por publicações relacionadas às chuvas. Eduardo Bolsonaro afirmou que medidas foram tomadas tardiamente pelo governo, enquanto Cleitinho e Marçal divulgaram informações sobre doações que foram desmentidas.
Outras autoridades também contribuíram para a disseminação de fake news. O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), divulgou informações sobre fiscalização de caminhões que foram negadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O deputado Gilvan da Federal (PL-ES) afirmou que barcos estavam sendo parados para verificar documentação, o que foi desmentido pelo subcomandante geral da Brigada Militar.
Entre as notícias falsas que mais repercutiram estão aquelas relacionadas à saúde e às doações. Parlamentares como Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) espalharam informações falsas sobre a reposição de medicamentos e a falta de vacinas no estado, enquanto Priscila Costa (PL), vereadora de Fortaleza, questionou a legitimidade do Pix oficial para doações.
O aumento significativo no número de denúncias de fake news sobre as enchentes tem sobrecarregado os veículos jornalísticos que realizam checagem de notícias. O Globo identificou 20 delas. A Agência Lupa, por exemplo, recebe cerca de 300 pedidos de verificação diariamente em seu canal no WhatsApp, o dobro da média anterior e uma quantidade comparável ao período da pandemia.