Desafiando normas e inspirando mudanças

Vereadora de Goiana, Ana Diamante é uma das duas mulheres numa casa machista. Ela afirma sofrer constantemente violência de gênero – Wandson Araújo
Vereadora de Goiana, Ana Diamante é uma das duas mulheres numa casa machista. Ela afirma sofrer constantemente violência de gênero – Wandson Araújo

Ana Diamante (União), vereadora na cidade de Goiana, na zona da Mata Norte pernambucana, é membro da bancada evangélica, mas destaca-se por sua defesa incisiva de pautas progressistas, causando desconforto entre aliados e conservadores. Seus projetos, centrados na promoção dos direitos das mulheres, pessoas com deficiência e da comunidade LGBTQIA+, têm enfrentado resistência, principalmente em uma casa legislativa dominada pela representação masculina, onde apenas ela e a vereadora Ana de Marcílio integram a bancada feminina, que, curiosamente, também é evangélica.

Em uma entrevista a este blog, Ana enfatizou sua abordagem de separar a religião das políticas públicas. “Somos uma bancada evangélica, mas eu separo a religião das políticas públicas. A minha religião não pode interferir na minha opinião pública”, afirma. Contudo, ela revela enfrentar perseguição e violência de gênero, lutando constantemente para ser respeitada em um ambiente marcado pela mentalidade machista e misógina. “Preciso todo o tempo estar me impondo para ser respeitada. Eles falam em vitimismo, porque eles têm uma mentalidade fechada. Enquanto mulher, e mesmo estando no meu primeiro mandato, não me calo”, afirma.

Ana Diamante lamenta que a maioria de seus projetos de lei esteja engavetado, o que a levou a diminuir seu ritmo de produção legislativa. “Eu fazia projeto pra ficar na gaveta”, disse. Apesar disso, ela acumula mais de dez leis sancionadas, todas focadas nas questões que ela defende, principalmente voltadas para as mulheres, e outros tantos requerimentos e indicações na mesma direção.

Sua primeira batalha como vereadora, em 2021, foi a proposição para a criação da Patrulha Maria da Penha na Guarda Municipal de Goiana, visando fiscalizar o cumprimento das medidas protetivas da Lei Maria da Penha. No entanto, Ana lamenta que essa iniciativa não esteja sendo efetivamente implementada. Além disso, ela destaca leis como o Programa de Erradicação da Pobreza Menstrual e a instituição do “Dia Municipal da Dignidade Menstrual”, o Programa Mulher Independente, que apoia a geração de emprego e renda para mulheres em situação de violência doméstica, e o Programa de Atendimento Integral e Humanizado às Mulheres em estado de Climatério ou pós-Climatério.

Ana Diamante não hesita em apontar como suas posições em defesa de minorias, como os homossexuais, têm gerado polêmica na cidade. Autora de uma indicação para a criação de um laboratório destinado a esse público, ela explica: “Eu vejo a necessidade de defender pessoas vulneráveis que precisam de políticas públicas. E eu quis olhar para eles”.

Em sua avaliação sobre a política local, Ana destaca que, apesar de Goiana ser uma cidade importante para o estado, representando a quarta arrecadação de Pernambuco (estimada em mais de 10 bilhões), a política ainda é profundamente patriarcal, centralizada e carente de inteligência. Ela acredita que a presença ativa das mulheres na política é essencial para transformar esse cenário. “O que a gente vê é uma política viciada, e nós mulheres precisamos estar nela para transformá-la”, conclui Ana Diamante.

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